sábado, 17 de novembro de 2007

ÉPICO DE GILGAMESH






O ENCONTRO DE GILGAMESH COM UTNAPICHTIN (O NOÉ BÍBLICO)

TABUINHA XI

"Observando-te, Utnapichtim, vejo que não és maior nem mais alto que eu, e te assemelhas a mim como um pai ao filho. Também tu és um homem! Mas não tenho paz, fui criado para lutar; tu, ao invés, conseguiste subtrair-te a luta e serenamente repousas. Diz-me pois, como pudeste entrar para a assembléia dos deuses e encontrar a vida ?"

"Quero desvelar-te, ó Gilgamesh, uma história oculta, um segredo dos deuses.

Churrupak é uma cidade antiqüíssima, e por longo tempo os deuses lhe foram benignos, mas depois decidiram fazer descer sobre a terra um dilúvio. No conselho dos deuses estava também presente Ea, o deus do Abismo, e ele confiou â minha casa, feita de canas, esta sentença dos deuses. "E narrou como Ea o exortara a abandonar seus bens, salvar a vida e construir uma embarcação capaz de carregar a semente da vida de cada espécie, "Homem de Shurupak, filho de Ubara-Tutu, desmanche sua casa, construa rápido o barco e leve-o no mar de águas doces, carregando-o com o que for necessário."

"Preparei então madeira e piche, desenhei o plano do barco e nele desenhei vários sinais. Todo meu povo contribuiu na construção."

Quando a nave ficou pronta, "carreguei nela tudo o que possuía; prata, ouro e sementes de vida de toda espécie; fiz entrar toda minha família; carreguei as bestas grandes e pequenas; ordenei, por fim, que tomassem lugar os artesãos versados nas diversas artes".

"Os espíritos das trevas verteram depois sobre a terra uma chuva torrencial; eu fiquei observando a tempestade, assustadora de se ver. Quando despontou a aurora, ergueram-se nuvens negras como corvos; os espíritos do mal estavam endiabrados, e toda luz se transformou nas trevas mais densas; soprava impetuoso o vento do meridiano, as águas revoltas alcançaram os montes, desabando sobre os homens. O irmão não reconhecia mais o irmão; até mesmo os deuses tiveram medo do furação e correram a refugiar-se sobre a Montanha Celeste de Anu, encolhendo-se como cães assustados. Ishtar, presa de agonia, gritava: "O belo país se transformou em lama pelo meu mau conselho; como pude sugerir tamanha maldade? Como pude pensar em exterminar a minha gente? Eis que agora a correnteza abate os homens como no furor da batalha(...)"

"Todos os homens tornaram-se lama, a terra estava uniforme e deserta. Abri a janela do barco e a luz atingiu meu rosto; prostrei-me ao chão, depois sentei-me e chorei com lágrimas copiosas; observei aquele grande deserto de água, exclamei que todos os homens estavam mortos. Depois de doze horas duplas vi despontar no horizonte uma ilha: a minha nau estava sobre o monte Nissir. Ela ficou encalhada sobre o monte Nissir durante seis dias; no sétimo, tomei uma pomba e deixei-a partir, mas retornou, não encontrando nenhum lugar onde pousar. Tomei um corvo e o deixei partir; voou para longe, pois que as águas estavam baixando, comeu, ciscou a terra e não retornou. Então deixei que todos os animais saíssem e sacrifiquei um cordeiro; espargi alguns grãos sacrificiais sobre o topo do monte e queimei alguns ramos de cedro e mirto. Os deuses aspiraram o fumo que enchia de prazer as suas narinas e reuniram-se em torno do sacrifício como moscas."

Os deuses reprovaram a Enlil por ter suscitado toda aquela devastação: se queria punir os homens por alguma ofensa, podia soltar sobre a terra alguns leões ferozes, ou monstros, ou provocar uma carestia, mas não destruir toda a humanidade. Bel, porém, de modo algum se arrependeu, mas ficou agastado ao ver aquela embarcação: "Quem é esse mortal que conseguiu escapar ao seu destino? Ninguém deve sobreviver ao meu juízo". Mas Enki vai sobre a nave e diz a Utnapichtim as seguintes palavras; "Até agora, Utnapichtim, eras um homem mortal; deste momento em diante, tu e tua mulher sereis semelhantes a nós e habitareis longe, perto do mar onde desembocam os rios".




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COMO DOCUMENTOS COMO OS ÉPICOS DE ATRAHASIS E GILGAMESH, CÓDIGO DE HAMURABI E AS ESTELAS DOS REIS DA MESOPOTÃMIA FORAM ENCONTRADOS

Muito pouco se sabia sobre as antigas civilizações na mesopotâmia a não ser por relatos bíblicos ou pela detalhada descrição do historiador grego Heródoto no século V a.C.

Por meio de especulações de vigários apostólicos em Bagdá no Iraque ( Emmanuel de Saint Albert 1761 e Joseph de Beauchamp 1785), de que haviam indícios de que seria possível encontrar a famosa cidade de Babel descrita na bíblia, despertaram a curiosidade de pesquisadores europeus para se dirigirem até lá para recolher e estudar materiais escritos em caracteres de forma cuneiforme (forma de cunha), em uma linguagem desconhecida.

Aos poucos , principalmente no século XIX e início do século XX, se descobriu o antigo mundo literalmente enterrado nas areias da mesopotâmia; principalmente muralhas de cidades, monumentos, milhares de tabuinhas de argila cozida contendo várias inscrições cuneiformes.



DECIFRANDO ENÍGMAS

Como peças de quebra cabeças, aos poucos pesquisadores como Carsten Niebuhr (1733-1815), Georg Friedrich Grotefend (1775-1853), por meio de reconhecimento de símbolos repetitivos associados ao nosso alfabeto que formavam frases diferentes e como exemplo que ajudou nas traduções podemos citar as comparações de materiais com o mesmo texto escrito em outras línguas regionais no mesmo material, quando ao menos uma linguagem de um dos textos se tornaria conhecida pelos pesquisadores, como a língua Persa arcaica. Henry Creswicke Rawlinson (1810-1895) que em 1838 foi o primeiro a apresentar uma tradução convincente sobre essa lingua.

No caso da história de Gilgamesh, ela é formada por 11 ou 12 tábuas de argila cozida com aproximadamente 3000 linhas em escrita cuneiforme que eram copiadas por vários povos . Foram encontradas cópias em Ur, Sippar, Ishchali (5 tábuas), Ninive (bibliotecas dos Reis Senaqueribe e Asurbanipal), Bogazköy, Megido, Ugarit, Emar e em outras versões posteriores feitas pelos Sumérios, Hititas, Hurritas e Elamitas.

Em 3 de dezembro de 1872 George Smith assiriologista do British Museum (1840-1876) já poderia dar uma declaração na Society of Biblical Archaeology sobre as histórias referentes ao dilúvio como os da Epopéia de Gilgamesh, Athahasis ) semelhantes a bíblia, e escritos anteriores a ela surpreendendo a todos pelo questionamento gerados a respeito da aceitação literal das histórias bíblicas.

Quando na Alemanha o professor Doutor Friedrich Delitzsch (principal autoridade em assiriologia) divulgou em 13 de janeiro de 1902 que a bíblia não era o livro mais antigo existente questionando a autoridade fundamental do Antigo Testamento, o evento tornou-se histórico como um escândalo inesperado e inevitável.

"Não é preciso engolir os fatos sem mastigar, também não sendo necessário jogar a Bíblia em uma prateleira como se fosse um traste antiquado."(Friedrich Delitzsch)

"A religião nunca foi resultado da ciência, mas sim uma efusão do coração do homem em seu relacionamento com Deus."(Friedrich Delitzsch)

Nos dias atuais podemos enfim refletir, que seria inútil descartar esses achados para se entender muitas das narrações da bíblia no estudo da Teologia, assim como não se pode descartar totalmente a Bíblia como instrumento para se entender a história da humanidade.


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